Segundo o pesquisador José Chavaglia Neto, os memes são instruções para
realizarmos comportamentos, armazenados no cérebro e passados adiante por
imitação
Por que preferimos determinado
produto em detrimento de outro? A resposta pode estar ligada à genética e aos
estímulos que recebemos ao longo da vida – os chamados memes. Quem explica é o
pesquisador José Chavaglia Neto, professor da FGV Management, especialista
neuromarketing e autor do livro Neuroeconomia.
Os genes, unidades biológicas
transmitidas de forma hereditária, não determinam o destino de um ser humano,
mas estabelecem um conjunto de possibilidades. José Chavaglia afirma que por
meio de uma verificação do DNA mitocondrial das populações atuais é possível
reconstruir o passado, já que os grupos sanguíneos são variações genéticas.
Segundo o pesquisador,
investigações feitas por cientistas em busca dessas variações genéticas
confirmam a hipótese de que viemos do mesmo lugar. “Para ser mais exato, as
pessoas descendem de uma única população ancestral que viveu na África há cerca
de 100 mil anos”, afirma Chavaglia.
Apesar de virmos todos de um
mesmo local, isso não nos torna iguais. As diferenças de comportamento podem
ser explicadas pela hereditariedade e a adaptação ao ambiente, fazendo com que
a influência da memética seja tão importante quanto a da genética.
Os chamados memes, compreendidos
como um comportamento ou uma ideia, passam de pessoa para pessoa por gerações.
“São ideias e ideologias como, por exemplo, ir à igreja, comprar um smartphone,
fazer um curso superior em uma faculdade”, exemplifica Chavaglia. “Os memes são
instruções para realizarmos comportamentos, armazenados no cérebro e passados
adiante por imitação”.
Chavaglia diz que por ser uma
essência padrão de comportamento e por se replicar naturalmente, os memes podem
se adaptar melhor em algumas pessoas do que em outras. O meme se desenvolve na
mente humana e existe um limite para a sua reprodução. “Cada mente tem uma
capacidade limitada de armazenamento de memes, o que cria uma competição entre
eles”, ressalta.
De acordo com o pesquisador da
FGV, a memética tem o poder de modificar a predisposição do gene. Um exemplo
dado por Chavaglia diz respeito ao consumo de refrigerantes. Ao ser exposta a
um comercial de refrigerante durante anos, a pessoa pode optar por tomá-lo ao
invés de suco de frutas. Se o consumidor se tornar diabético, ele tenderá a
optar pelo refrigerante zero. “O meme implantado pela medicina de que o
diabético deve evitar açúcar modificou o consumo de um item para este
indivíduo”, exemplifica.
Outro exemplo prático de costumes
passados de uma geração à outra por meio da memética se dá na tribo indígena do
Xingu, em Mato Grosso. Lá, as crianças
de apenas três anos comem sozinhas um peixe inteiro assado sem que seus pais
precisem separar a carne da espinha. Por imitação e uma questão cultural,
aquelas crianças já sabem como devem proceder para não se ferirem ou engasgarem,
o que para os pais não-indígenas seria motivo de preocupação.
“As empresas já perceberam esta
enorme capacidade estão cada vez mais agressivas com relação à implantação de
memes na mente das pessoas”, afirma. Talvez por isso, diz Chavaglia, as empresas
estão estimulando os seus potenciais consumidores cada vez mais cedo. “Para ser
mais especifico, desde o útero somos colocados a prova por estímulos auditivos
e mais tarde na adolescência por experimentações capazes de inserir um meme
duradouro, como por exemplo, uma marca de bebidas, um shopping, uma banda de
rock e até um canal de televisão”, finaliza.
José Chavaglia Neto é professor
da Fundação Getulio Vargas, especialista em Controladoria e Finanças e
doutorando em Métodos Quantitativos, pesquisador nas áreas de inovação,
neuroeconomia, neuromarketing, economia e sustentabilidade e teve recentemente
um artigo sobre neuroeconomia publicado na Índia.
Os artigos do pesquisador estão
disponíveis no blog www.josechavaglia.blogspot.com.br.