Dia dos Namorados se aproxima e o Brasil se pergunta: o que
dar de presente? Sempre fui ruim em escolher presentes nesta data e todo ano
minha esposa paga por um “crime que não cometeu”. Então decidi investigar as
causas desse meu problema.
Por que presenteamos no Dia dos Namorados? O que de fato é
necessário saber são os motivos que nos fazem sentir obrigados a dar o
presente. Em literatura sobre neurociência, psicologia e comportamento humano
encontrei respostas.
Um economista responderia que compramos porque é uma data
comercial e se a economia vai bem, então o consumidor optará por um produto
específico. Apesar de ser uma hipótese interessante, não corresponde à
realidade. Talvez por isso muitas lojas de presentes não consigam ficar mais de
um ano nos shoppings e galerias de todo o Brasil.
Claro que preço e meios de pagamento impactam na escolha,
mas queremos saber de que forma isso acontece. Teoricamente, a classe mais
desprovida deveria otimizar comprando bens essenciais a preços mais baixos. Mas
percebo que há alguma coisa errada, a menos que o iphone tenha entrado para a
cesta básica.
Contrato social não se mistura com economia. Quando
realizamos um ato econômico trabalhando durante 8h com intervalo de 2h para
almoço, estamos em estado de trabalho. Quando doamos algo, por exemplo, 8h de
trabalho comunitário sem intervalo para almoço, trabalhamos de forma
entusiasmada e apenas esperamos gratidão – isso é contrato social. As pessoas
se sujeitam a situações no contrato social que jamais se sujeitariam na vida
econômica. Presentear namorado é contrato social.
Mas ainda não estava satisfeito. Recorri aos livros de
neurociência que ganhei no Dia dos Namorados ano passado. Sim, ao contrário de
mim, minha esposa sabe presentear.
Quando damos ou recebemos um presente, são ativados o núcleo
accumbens e a ínsula, regiões primitivas do cérebro correlacionadas ao sistema
de recompensa cerebral. Essa é uma razão forte para que sejamos levados a
presentear a pessoa amada. Pois a ativação dessas áreas representa a criação,
mesmo que de forma inconsciente, de expectativas com relação ao comportamento
da outra pessoa.
Depois de ver que nosso comportamento é um processo químico
que acontece no cérebro, fica claro que o segredo de presentear é prestar
atenção ao sistema de recompensa cerebral. Ora! Quando nos relacionamos com
alguém sempre esperamos algo em troca, seja gratidão, carinho, dinheiro,
companhia, entre outras formas de recompensa. É bom lembrar que o cérebro não
diferencia comida, sexo, dinheiro. O que importa é ser recompensado.
Já tenho a resposta da segunda questão que era saber por que
damos presentes: é que esperamos algum tipo de recompensa, não importando qual
seja. Mas falta saber qual presente comprar. Fiz como manda o figurino, avaliei
as variáveis envolvidas na decisão, afinal sou economista, considerei o
contexto, e logo percebi que seria importante ficar atento às emoções que
envolvem o ato de dar o presente.
Logicamente, para gerenciar o sistema de recompensa de minha
esposa, minha missão seria evitar sentimentos como tristeza, raiva, medo, nojo,
desprezo e surpresa negativa. E ampliar o quanto possível as chances de que o
sentimento seja o de alegria ou de surpresa positiva. Optei por algo que a
deixasse feliz.
Em contrapartida, sei que ao entrar em um shopping ou no
site de compras, a empresa trabalha o medo, fazendo com que o consumidor se
sinta mal por não comprar um presente especial (que por acaso é o que eles
estão oferecendo). Deve-se tomar a decisão antes de entrar na loja ou site.
Pois bem, decidida a ação de compra. Pensei: mas o que vou
comprar para deixá-la feliz? Primeira coisa a ser feita é saber como está a
expectativa da pessoa em relação ao Dia dos Namorados. Não se enganem, a
expectativa sempre existirá, o que pode mudar é o grau de expectativa. Decidi:
assim que chegar em casa vou conversar com ela e tentar perceber como está a
expectativa.
Fiz uma avaliação e constatei que se pudesse, daria o mundo.
Mas não posso, e ninguém pode. Bom lembrar que o cérebro percebe facilmente
emoções verdadeiras, ela ou ele saberão se suas emoções são verdadeiras neste
dia tão especial.
A dica é: dê um pouco mais do que o esperado. Não tem erro,
ele ou ela ficará contente e assim você também deixa margem para melhorar na
próxima vez. Ah! Já ia esquecendo, decidi que vou comprar uma batedeira de
massas para bolo para minha esposa, pois ela ama fazer novas receitas. Ela vai
adorar, vamos comer bolos deliciosos. Mas, o mais importante, vou desmarcar os
compromissos do fim de semana para lhe dar total atenção. E por favor, não
contem nada a ela para não estragar a surpresa.
Feliz dia dos namorados!
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